{"id":12105,"date":"2021-09-01T14:00:40","date_gmt":"2021-09-01T17:00:40","guid":{"rendered":"https:\/\/www.aofergs.com.br\/?p=12105"},"modified":"2021-08-31T18:57:47","modified_gmt":"2021-08-31T21:57:47","slug":"ultima-mulher-coronel-das-pioneiras-da-bm-entra-para-reserva","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.aofergs.com.br\/ultima-mulher-coronel-das-pioneiras-da-bm-entra-para-reserva\/","title":{"rendered":"\u00daltima mulher coronel, das pioneiras da BM, entra para reserva"},"content":{"rendered":"

Historiadora, muse\u00f3loga, fot\u00f3grafa, militar, m\u00e3e, negra e mulher. Todas essas s\u00e3o caracter\u00edsticas da coronel Najara Santos da Silva em sua trajet\u00f3ria na Brigada Militar, que se encerra nesta ter\u00e7a-feira (31\/8), mas a principal marca deixada pela porto-alegrense na institui\u00e7\u00e3o se resume em uma palavra: pioneirismo. Ela \u00e9 a \u00faltima policial militar das primeiras turmas femininas da corpora\u00e7\u00e3o a alcan\u00e7ar o mais alto posto da carreira de oficial ainda na ativa, tamb\u00e9m a primeira negra nessa condi\u00e7\u00e3o, a primeira instrutora de tiro da BM e, ainda, a primeira mulher a comandar o 21\u00b0 Batalh\u00e3o de Pol\u00edcia Militar (21\u00b0 BPM), na Zona Sul da Capital. Ap\u00f3s 35 anos de servi\u00e7o, a coronel Najara passa \u00e0 reserva deixando um legado de caminhos abertos e inspira\u00e7\u00e3o para as colegas e as alunas-oficiais, que ser\u00e3o as futuras lideran\u00e7as femininas da Brigada.<\/p>\n

Nascida, criada e ainda moradora do Bairro Santana, Najara veio ao mundo \u201cno ano da legalidade\u201d, como gosta de frisar, em 22 de julho de 1961. Com 60 anos, hoje \u00e9 a oficial mais velha da BM.<\/p>\n

Inspirada no pai, seu sonho de inf\u00e2ncia era ser marinheira, mas a sua forma\u00e7\u00e3o n\u00e3o era aceita na \u00e9poca. Formada em Estudos Sociais e Hist\u00f3ria pela Unisinos, estava, ent\u00e3o, no aguardo de concurso para magist\u00e9rio ou para historiadora. Como o certame espec\u00edfico n\u00e3o surgia, a m\u00e3e sugeriu que se inscrevesse para o concurso da BM. Embora n\u00e3o tenha ingressado na for\u00e7a naval brasileira, sua disciplina e teimosia n\u00e3o a deixaram longe da vida da caserna.<\/p>\n

Atual chefe de gabinete do comandante-geral da BM, Najara incluiu em 1987 no Curso de Forma\u00e7\u00e3o de Sargentos Femininos, primeira turma de pra\u00e7as mulheres da pol\u00edcia militar ga\u00facha. \u201c\u00c9ramos 16 mulheres. Toda atividade quando ela \u00e9 pioneira, se tem trabalho. Durante o curso passamos dificuldades. Embora houvesse a preocupa\u00e7\u00e3o de adapta\u00e7\u00e3o da estrutura por parte da Escola de Forma\u00e7\u00e3o e Especializa\u00e7\u00e3o de Cabos e Soldados, o ambiente era para o p\u00fablico masculino\u201d, conta a oficial.<\/p>\n

Depois de formada, trabalhou na Companhia Feminina como sargento e participou da forma\u00e7\u00e3o da segunda turma de soldados femininas. Por quest\u00f5es de log\u00edstica, as companhias femininas foram extintas e as mulheres incorporadas aos batalh\u00f5es, o que tamb\u00e9m impulsionou a supera\u00e7\u00e3o de dificuldades para adapta\u00e7\u00e3o dos quart\u00e9is \u00e0s mulheres. Os recursos eram escassos, o aquartelamento era dif\u00edcil para os homens, mas para mulheres, ainda mais, na maioria das vezes com alojamentos improvisados e revezamento de sanit\u00e1rios. Tudo, aos poucos, gra\u00e7as \u00e0 presen\u00e7a de pioneiras como Najara, foi avan\u00e7ando.<\/p>\n

Em 1989, uma incans\u00e1vel Najara ingressou no Curso de Forma\u00e7\u00e3o de Oficiais, como 2\u00ba tenente. Na \u00e9poca, o curr\u00edculo ainda era diferente dos homens. Para o p\u00fablico feminino, eram aceitos apenas alguns cursos superiores, o que n\u00e3o inclu\u00eda nenhuma das suas forma\u00e7\u00f5es. Mas Najara n\u00e3o desistiu. Com apoio da hoje coronel da reserva Cristine Rasbold \u2013 outra pioneira, como primeira mulher a assumir o Estado-Maior da BM \u2013, levou uma longa e fundamentada justificativa da relev\u00e2ncia dos conhecimentos que possu\u00eda. Convenceu o comando e obteve direito ao ingresso no curso para oficiais.<\/p>\n

A novidade tamb\u00e9m proporcionou mudan\u00e7as nas fardas, sapatos e coturnos, feitos sob medida, para atender \u00e0s necessidades da anatomia feminina. Alcan\u00e7ada mais uma conquista com a formatura como oficial, Najara foi para o 1\u00ba Batalh\u00e3o de Pol\u00edcia Militar. Passado algum tempo, a impulso do pioneirismo voltou a falar alto: abriu-se processo seletivo para forma\u00e7\u00e3o de instrutores de tiro. \u201cJ\u00e1 tinha tentado fazer, mas como eu era sargento (na \u00e9poca), n\u00e3o pude. Ent\u00e3o, era quest\u00e3o de honra ser aprovada nesse\u201d, destacou a brigadiana.<\/p>\n

Assim, Najara n\u00e3o deixou escapar mais uma chance de fazer hist\u00f3ria. Todo o intervalo que tinha entre um servi\u00e7o e outro, dedicava aos treinos. \u201cParecia meio doida, todo minuto que tinha, eu ia para o alojamento, onde tinha um alvo atr\u00e1s da porta. Treinava saque, mira, visada, todos os fundamentos, s\u00f3 a execu\u00e7\u00e3o do tiro que n\u00e3o. Assim, consegui ser aprovada. A duras penas, sobrevivi ao curso e \u00e0quela turma medonha\u201d, lembra com o sorriso aquela que se tornaria a primeira mulher instrutora de tiros da institui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Na sequ\u00eancia da carreira, como comandante do Col\u00e9gio Tiradentes de Porto Alegre e o Departamento de Ensino, enxergou a possibilidade de se dedicar \u00e0 educa\u00e7\u00e3o na maior parte da carreira como uma d\u00e1diva. Najara ainda esteve \u00e0 frente do Comando Ambiental, do Comando de Policiamento da Capital e da coordena\u00e7\u00e3o estadual do Programa Patrulha Maria da Penha. Al\u00e9m de ter sido a primeira mulher a comandar o 21\u00ba BPM, tamb\u00e9m teve passagem pela dire\u00e7\u00e3o do Museu da Brigada Militar, onde aproveitou sua especializa\u00e7\u00e3o de museologia para encabe\u00e7ar diversos projetos.<\/p>\n

No balan\u00e7o de retrospectiva, apesar de n\u00e3o ter seguido carreira em sua forma\u00e7\u00e3o acad\u00eamica, a coronel n\u00e3o tem d\u00favida de ter feito as escolhas certas. \u201cVou fechar 35 anos de servi\u00e7o ativo, pois acabei me apaixonando pela Brigada Militar\u201d, afirma com convic\u00e7\u00e3o a profissional que dedicou a vida a servir e proteger a comunidade ga\u00facha.<\/p>\n

Na \u00faltima sexta-feira (27\/8), a oficial recebeu homenagem da turma de alunas-oficiais do Curso Superior de Pol\u00edcia Militar (CSPM), na Academia de Pol\u00edcia Militar. As cadetes foram incumbidas de definir a coronel Najara em uma palavra. Bravura, autenticidade, compet\u00eancia, resili\u00eancia, lideran\u00e7a, empatia e inspira\u00e7\u00e3o foram caracter\u00edsticas lembradas \u00e0 oficial superior. Com a presen\u00e7a surpresa da filha, Nat\u00e1lia, de 22 anos, a defer\u00eancia tamb\u00e9m contemplou a Najara m\u00e3e e mulher. \u201cN\u00e3o fazia ideia do quanto minha m\u00e3e era admirada no trabalho dela. Ela \u00e9 meu exemplo e, pelo visto, \u00e9 de voc\u00eas tamb\u00e9m. A minha m\u00e3e \u00e9 uma mulher forte e batalhadora. Te amo, m\u00e3e!\u201d, declarou, emocionada, a estudante de arquitetura.<\/p>\n

Com a trilha de sua cantora favorita, Maria Bet\u00e2nia, um v\u00eddeo trouxe uma sequ\u00eancia de imagens da trajet\u00f3ria de Najara na Brigada. Com a palavra, a oficial agradeceu a homenagem e deixou um recado \u00e0s futuras lideran\u00e7as da corpora\u00e7\u00e3o: \u201cDificuldades todos enfrentam. Mulheres, homens, negros e brancos. Na carreira militar e na vida. Contudo, com esfor\u00e7o e dedica\u00e7\u00e3o, tudo se supera. Lutem pelos ideais de voc\u00eas e conquistem seu espa\u00e7o. Ajudamos a construir a hist\u00f3ria da Brigada Militar e, agora, \u00e9 a vez de voc\u00eas\u201d.<\/p>\n

Texto: Kelly Motter\/SSP
\nEdi\u00e7\u00e3o: Carlos Ismael Moreira\/SP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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